quarta-feira, 9 de setembro de 2015

REBECA: atraentemente perigosa

A providência de Deus dirige a nossa vida. No entanto, não somos levados mecanicamente, como se a mão invisível de Deus anulasse a nossa responsabilidade. É verdade que se deixados para as nossas decisões, elas nos levariam a caminhos tortuosos, todavia, o Senhor sempre nos preserva em sua bondade e concorre conosco. A vontade de Deus segue santa e perfeita executando o seu plano, fiel à sua aliança, em Cristo, conosco. Apesar de nossos vergonhosos pecados e, não poucas vezes escandalosos, Deus usa de sua misericórdia para manifestar a sua virtude através de nossas vidas, e tudo para que somente Ele seja glorificado.


            A Escritura narra a história de Isaque, filho da promessa, e de sua esposa Rebeca. Uma linda história, cheia de altos e baixos, com contornos da graça e sombras do pecado, mas nunca ausente da misericórdia de Deus. Esta é a história de Rebeca. Ela era filha de Betuel, irmã de Labão e sobrinha de Abraão. A sua família vivia em Arã-Naharaim, na região da alta Mesopotâmia (Gn 24:10). O seu nome literalmente significa “amarrar firme, atar, prender”.[1] O seu nome é sugestivo, indicando ser alguém envolvente ou cativante. De fato, a narrativa bíblica indica que o olhar do servo Eliezer “observava, em silêncio, atentamente, para saber se teria o SENHOR levado a bom termo a sua jornada ou não” (Gn 24:21). Uma linda jovem que atraia pela sua beleza, mas que cativou os peregrinos pela sua simplicidade e disposição de servir, de modo tão hospitaleiro, aquela caravana de estrangeiros. Abraham Kuyper comenta que “apesar de ser de uma família de boa reputação não tinha medo de sujar os seus dedos.”[2] Ela não era atraente por ser apenas fisicamente bela, mas pelas suas virtudes que foi ao encontro das necessidades dos peregrinos.
            Após a morte de Sara, mãe de Isaque, Abraão decide casar o seu filho. Seguidos três anos do falecimento de sua esposa, Abraão ordena ao seu servo Eliezer que fosse à região de seus familiares atrás de uma esposa para o filho da promessa. A preocupação do pai da fé de que o seu filho se casasse com uma jovem de sua família evidenciava duas de suas premissas pactuais. Primeira, Isaque de modo algum deveria casar-se com cananitas pagãs. Se Abraão aceitasse tal enlace, isso implicaria num sincretismo religioso, e ele quebraria a aliança do Senhor em promover um casamento misto e comprometeria a descendência messiânica. E a segunda premissa, é que apesar de um casamento com uma jovem cananita pudesse trazer vantagens em termos de uma pacífica diplomacia com as tribos de Canaã, ela resultaria na negação da providência divina.[3] Estas coisas feririam o pacto de Deus, que até ali havia demonstrado incondicional fidelidade com Abraão, guiando e provendo as suas reais necessidades.
            A história salienta como a direção da providência de Deus controlou a escolha de uma esposa crente para o filho da promessa. Victor P. Hamilton esclarece que nesta história “acaso e coincidência não têm vez. Para esse casamento, Deus escolhera a esposa (vv. 14, 44).”[4] Rebeca foi a providente graça que atraiu o servo de Abraão, para que se evidenciasse a mão invisível de Deus cumprindo a promessa de sua aliança. O Senhor preceitua que os filhos da aliança se casem somente com herdeiros pactuais, e isso se estende do Antigo ao Novo Testamento (Dt 7:3-4; 1 Rs 11:4; Ed 9; 1 Co 7:39).
            A Bíblia menciona a família de Rebeca numa relação com o pacto de Deus. O seu irmão Labão ao receber Eliezer, o saúda usando o nome Yawéh, uma prática comum à relação pactual Deus estabelecida com Abraão (Gn 24:31). Moisés registra que “Labão e Betuel responderam: ‘Isso vem do Senhor; nada lhe podemos dizer, nem a favor, nem contra. Aqui está Rebeca; leve-a com você e que ela se torne a mulher do filho do seu senhor, como disse o Senhor.’” (Gn 24:50-51, NVI). A Palavra de Deus narra a despedida de seus familiares ao que “abençoaram Rebeca, dizendo-lhe: ‘Que você cresça, nossa irmã, até ser milhares de milhares; e que a sua descendência conquiste as cidades dos seus inimigos’” (Gn 24:60). Comentando este verso Derek Kidner observa que “os familiares de Rebeca mal sabiam que a benção que convencionalmente votaram a ela era um eco das sugestivas palavras ditas por Deus a Abraão (22:17).”[5]Deus confirmava a sua vontade para que Eliezer pudesse retornar cumprindo o seu dever e atendida a sua oração.
            O encontro de Rebeca com Isaque é marcado pela modéstia. Não há paixão inflamada, nem mesmo insinuações indecentes no momento em que se conheceram. Aproximando do acampamento de Abraão, e ao saber que o jovem que a aguardava era o seu futuro marido, ela usa de discrição para que a sua beleza não fosse o primeiro motivo de atração para o seu marido. Ela não quis chegar exibindo-se a todos da casa de Abraão, pelo contrário, escolheu ser a alegria dos olhos de seu marido, preferindo esperar tudo ao seu tempo.
            Gradativamente o cenário muda. Na sequência da narrativa Isaque e Rebeca escandalizaram durante a sua peregrinação. A sua beleza e não as suas virtudes atraiu a atenção de homens ímpios. Agrava a sua falha como esposa em consentir com a covardia de seu marido (Gn 25:20-28). Durante a sua estadia na região de Gerar, Isaque enganou Abimeleque e os filisteus, mentindo ao dizer que ela era sua irmã (Gn 26:1-11). Motivos errados e fraqueza somaram para criar um ambiente perigoso. Rebeca em sua sujeição ao marido manifesta a sua insubmissão ao Senhor. Por fim, foi a misericórdia do Senhor os livrou de uma desgraça que poderia destruir a família da aliança.
            Deus cumprindo o seu plano a mantém estéril por aproximadamente 20 anos. Perdida a esperança, então, o Senhor lhe concedeu os gêmeos, Esaú e Jacó, para que neles, Ele manifestasse o propósito da eleição. Aqui vemos a soberania guiando a vida de Rebeca e lhe ensinando que dEle veem os filhos e que são herança do Senhor. Deus em sua aliança prometeu um descendente e cumpriu, e foi misericordioso com Jacó, mas não com Esaú.
            Na história da redenção Rebeca será lembrada por seus pecados de preferência por Jacó (Gn 25:28). Ela lançou a semente de contenda em seu lar, pois com a sua insensatez ela contribuiu para a inimizade de seus filhos. Novamente Kuyper contribui ao observar que
este tipo de mulher recatada, essencialmente feminina, pode recorrer a toda classe de meios domésticos para conseguir os seus propósitos. Não é orgulhosa ou jactanciosa, e talvez, por isto tende a conseguir as coisas a sua maneira. Isto evita contenda e contribuí para a harmonia. Mas, também pode ser manipuladora: usar da astúcia para conseguir o seu propósito, confiando, por exemplo, que ninguém notará.[6]
Ela pecou usando as suas virtudes para trair a confiança do seu marido. Ao dar um mau conselho a Jacó, usou da mentira para enganar Isaque que não enxergava. O coração do patriarca pecaminosamente predisposto a Esaú obscureceu o seu entendimento, impedindo de discernir o tato, olfato e finalmente iludido pelo paladar, foi facilmente atraído para a mentira de Rebeca.
            Com a inimizade instaurada e a ameaça de morte declarada, Rebeca optou fazer com que o seu filho mais moço fugisse em vez de se reconciliar com Esaú. Acerca deste trágico evento, Derek Kidner comenta que Jacó
não precisa partir como fugitivo, mas contando com o apoio do pai no lar que deixa atrás, e rumando para o abrigo da família da mãe – e Isaque há de ser quem, de preferência, lhe sugira a ideia. Com este fim, levantar Rebeca o assunto do casamento de Jacó foi um golpe de mestre; isto jogava também com o interesse próprio de Isaque e seus princípios. A perspectiva de uma terceira nora hetéia e de uma esposa perturbada desfibraria até mesmo um Abraão. A vitória diplomática de Rebeca foi completa.[7]
Novamente ela usou de sua virtude para seduzir e fazer com que Isaque decidisse o futuro dos seus filhos. Rebeca manipulou o seu marido fazendo-o pensar que ele estava escolhendo o melhor para os seus filhos, enquanto a pecado dela disfarçava-se em cuidado materno, colorido de uma preocupação pactual. Entretanto, a triste consequência de sua palavra ao filho mais moço, é que ela morreu sem mais vê-lo. Pecado sempre é pecado e gera consequência. J.G.G. Norman observa que ela era
uma mulher de vontade forte e muito ambiciosa, tendo-se devotado primeiramente a seu marido; mas, posteriormente, transferido essa devoção a seu filho mais novo, isso teve desastrosos resultados na vida da família, ainda que a sequência demonstre que, no controle superior de Deus até isso foi convertido para a fomentação de Seu propósito.[8]
Ela contribuiu com o seu pecado para separar a sua família. O coração de seu marido se tornou num estranho, e perpetuou a inimizade entre os seus filhos. Ainda assim, vemos a mão invisível de Deus agindo e cumprindo a sua soberana vontade. Deus usa pecadores perdoados, vinculados a Ele por meio de seu gracioso pacto, afim de que, Ele manifeste o seu glorioso propósito de preparar um povo de propriedade exclusivamente seu, em que descenderia o redentor prometido. Abundou o pecado para que superabundasse a graça.
            Na nova Aliança ela é lembrada não pelos seus pecados, mas como recebedora da promessa pactual (Rm 9:10). Sabemos que a profecia foi pronunciada a Rebeca antes mesmo que os seus filhos praticassem o bem ou o mal. John Murray nota que “talvez seja inútil especular por que Rebeca recebeu a promessa e não Isaque. Todavia devemos que o ludíbrio por ela planejado e praticado também serve para demonstrar a soberana graça de Deus, como algo que dominou e foi contrário a todo o demérito humano.”[9] Apesar dos contínuos conflitos domésticos, nenhum motivo externo e humano de preferência pessoal poderia influenciar a escolha divina. Isso também nos faz pensar que apesar de nossos pecados, Deus cumpre perfeitamente o seu plano, corrigindo-nos como filhos amados e nos abençoando pela sua graça. A nossa descendência e o seu futuro pertence somente a Ele. O sincero arrependimento transparente, e por vezes público aos olhos de nosso cônjuge e de nossos filhos, fortalece os laços do nosso lar.
           
Pr Ewerton B. Tokashiki



[1] Do hebraico ribhqâ, que é uma corda usada para amarrar animais de pequeno porte. Vide* Benjamin Davidson, The analytical Hebrew and Chaldee lexicon (Peabody, Hendrickson Publishers, 1995), p. 674.
[2] Abraham Kuyper, Mujeres del Antiguo Testamento (Barcelona, CLIE, 1992), p. 43.
[3] Alfred Edersheim, Comentário Bíblico Histórico (Barcelona, CLIE, 2009), 6 tomos em 1, p. 69.
[4] Victor P. Hamilton, Manual do Pentateuco (Rio de Janeiro, CPAD, 2ª.ed., 2006), p. 109.
[5] Derek Kidner, Gênesis introdução e comentário (São Paulo, Edições Vida Nova, 1991), p. 138.
[6] Abraham Kuyper, Mujeres del Antiguo Testamento, p. 43.
[7] Derek Kidner, Gênesis introdução e comentário, p. 146.
[8] J.G.G. Norman, “Rebeca” in: Dicionário da Bíblia, J.D. Douglas, ed., (São Paulo, Edições Vida Nova, 2ª. Ed., 1995), pp. 1369-1370.
[9] John Murray, Comentário de Romanos (São José dos Campos, Editora Fiel, 2003), p. 376, nota 8.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O LAR DE UM PASTOR PIEDOSO

O LAR DE UM PASTOR PIEDOSO
O campo principal de missão do pastor não é sua congregação ou comunidade – mas é o seu próprio lar. Suas habilidades de comunicar o evangelho, ser um exemplo na vida piedosa, e de conduzir outros à santificação e à piedade, estarão mais precisamente em evidencia na vida de sua família do que em qualquer outro lugar.

É por isso que Paulo incluiu a qualidade de vida de um homem no lar, como uma das qualificações essenciais para a liderança na igreja.
Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? (1 Timóteo 3:4,5)

Não é suficiente para o pastor ter uma vida pessoal exemplar, mas  também deve ter uma vida doméstica exemplar. Ele não deve ser, como o personagem Loquaz[1] em O Peregrino, “um santo fora, e um demônio em casa”. A família é o campo de provas para as habilidades de liderança.
Ao longo da história, tem havido aqueles que defendiam o celibato para os líderes espirituais. Essa facção existia em Éfeso (cf.1 Timóteo 4:2, 3).  Em contrapartida, no entanto , a Palavra de Deus presume que um líder vai se casar e ter uma família . Apesar de que a norma não elimina os lideres solteiros. Os pastores devem ser líderes bem sucedidos na família.

Liderança no lar

A palavra “governar” significa que o ancião preside, ou tenha autoridade sobre o seu lar. Em casa, como na igreja, é o plano de Deus para os homens assumir o papel de liderança.
Paul também está preocupado com a qualidade da liderança do ancião. A palavra “bem” [2] vem do grego Kalos, uma rica palavra que poderia ser melhor traduzida por “excelente”. Seu significado pode ser mais bem entendida comparando-o com agathos, que significa inerentemente, moralmente, ou praticamente bom. Kalos nos leva um passo mais longe e acrescenta a ideia de esteticamente bom, bonito e atraente para os olhos. Um presbítero deve ser alguém cuja liderança no lar seja visivelmente admirável.

É possível para um homem satisfazer as qualificações morais de um presbítero, mas ser desqualificado por causa de sua evidente falta de liderança no lar. Um homem que veio a Cristo com idade avançada, depois de sua esposa e filhos terem estabelecido padrões de comportamentos, e seu lar ter sido um caos, ele poderá servir ao Senhor, mas não como um presbítero ou um diácono (cf.1 Timóteo 3:12).

"Governar a família" inclui mais do que a família, porque atinge  tudo que esta relacionado com a casa. Ele deve ser um bom mordomo de sua casa e de suas finanças – de todas as pessoas e recursos sobre o qual ele tem responsabilidade. Alguém, por exemplo, que administre sua família bem, mas seu dinheiro e posses são mal administrados, seria desclassificado.

Além disso, um líder na igreja deve manter “seus filhos sob controle com toda a dignidade.” Essa qualificação não pretende excluir os homens que não tem filhos, mas assume unicamente que estarão presentes. Hupotagē ( "sob controle" ) é um termo militar. Ele fala de alinhar na classificação sob uma autoridade. Filhos de presbítero devem ser respeitosos e bem disciplinados. "Dignidade" inclui cortesia, humildade e competência. Pode ser traduzido respeito, ou imponência. Filhos de presbítero devem trazer honra para seus pais. A implicação óbvia é que a sua família é ordenada e disciplinada, não rebelde, como Paulo acrescenta em Tito 1 : 6, " não acusado de dissipação ou rebelião. "

Por que a sua liderança em casa é importante para a  Igreja?

A razão pela qual um líder de igreja deve ter uma casa bem governada é óbvia: "Se um homem não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”(1Timóteo 3:5).

Um pastor é responsável por conduzir as pessoas no caminho de Deus, para a santidade, para a obediência, e para testemunhar - questões cruciais que devem ser examinadas e comprovadas em sua própria casa. O estabelecimento de uma cultura na igreja de resolver conflitos , de construir a unidade , a manutenção do amor, e servir uns aos outros é um desafio que começa em casa . Se ele for bem-sucedido em sua família, será provável que ele tenha sucesso na família de Deus. Se não, ele é desclassificado.





[1] Loquaz apresenta-se o verdadeiro retrato de muitos falsos mestres da religião, que fazem consistir esta em muitas palavras e em nenhuma obra. No bairro em que habita não se ouve  uma palavra em favor da religião, e isto por culpa dele. O povo tem por hábito dizer que ele é um santo fora e um demônio em casa. A própria família o vê tão grosseiro e tão colérico para com todos que nem sabe o que há de fazer para lhe agradar. Os que têm algum negócio com ele estão certos de encontrar mais honradez num seguidor de Maomé. Só quando não há oportunidades é que deixa de enganar, de defraudar e a abusar daqueles com quem faz negócios. Sua vida escandalosa tem sido causa de muitos tropeçarem e caírem, e se Deus não o impedir, será a ruína de muitos outros. (John Bunyan - O Peregrino p. 58)
[2] 1 Timóteo 3:4


MACARTHUR, John. The home of a godly shepherd.[ Artigo] Disponível em:

Traduzido por Ariovaldo Moreira Júnior

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

SEU PLANO DE BATALHA BEREIANO: ALCANÇAR

Seu plano de batalha Bereiano: Alcançar
Escrito por: Cameron Buettel
Antes do surgimento da Internet e mídias sociais, a vida de um charlatão religioso era fácil. Ministérios construídos por meio de profecias absurdas, imposição de milagres excêntrico, e distorção bizarra das Escrituras poderiam continuar sem esmorecer, sem o medo de qualquer exame sério.
E enquanto a heresia ainda é lucrativa, o herege moderno tem de ser astuto disfarçando seus esquemas e cobrindo seus rastros. Uma vez que ele poderia negociar por meio da ingenuidade espiritual, memórias de curto prazo, e públicos  isolados. Agora, a Internet -e Mídias sociais em particular- oferece uma grande fonte de informação e sem fim para expor falsos mestres e alertar contra os seus ensinos. Hoje, para sobreviver por um longo período, o falso mestre depende de sua habilidade de camuflar o seu erro, para evitar blogueiros zelosos e passar pela alfândega no portão da igreja.
A barreira foi levantada - engano doutrinário exige ir para um nível totalmente novo. E tem ido. Frequentadores da igreja com conhecimentos rasos e espiritualmente imaturos não são as únicas vítimas.  Crentes sólidos e biblicamente fundamentados também são vulneráveis ​​às doutrinas perigosas quando eles estão embalados por verdade suficiente. As vítimas espirituais na igreja são generalizadas, criando um campo de missão bem debaixo dos nossos narizes.
Nós já discutimos a necessidade dos cristãos detectar e expor falsos mestres, afiando seu discernimento com as Escrituras, lembrando as advertências da história da Igreja, e permanecendo firmes na verdade. Mas no meio desta guerra pela verdade, precisamos também de fidelidade e compassivamente cuidar dos feridos.
Há poucas responsabilidades mais difíceis do que evangelizar aqueles sob engano espiritual. Mas a dificuldade de tal tarefa de modo algum nos isenta deste campo de missão crítica. John MacArthur observa isso em seu estudo de Judas : "Nosso dever na  Guerra pela Verdade não é apenas para se opor aos falsos mestres , mas também para resgatar aqueles que foram enganados por eles. " [1]
Judas descreve três tipos de vítimas que necessitam de três tipos de resposta evangelística: “Tenham compaixão daqueles que duvidam; a outros, salvem-nos, arrebatando-os do fogo; a outros ainda, mostrem misericórdia com temor, odiando até a roupa contaminada pela carne.” [Judas 1:22,23]
O primeiro tipo que Judas menciona são " alguns, que estão duvidando " e na necessidade de misericórdia. John MacArthur explica:
Eles foram expostos à falsa doutrina, e abalou sua confiança na verdade. Eles não estão comprometidos com o erro ainda, apenas duvidam. Talvez eles não sejam verdadeiramente comprometidos com a verdade mesmo que queiram. Esses bem poderiam ser as pessoas que nunca foram total e salvadoramente crentes no evangelho. Por outro lado, eles poderiam ser crentes autênticos – jovens ou espiritualmente fracos. De qualquer maneira, a exposição aos falsos mestres, revelou uma fraqueza perigosa em sua fé, levando-os a duvidar.
Tenha misericórdia deles, diz Judas. Não escrevo a eles porque são fracos e indecisos. Eles estão confusos, porque eles são absolutamente abertos a todo e qualquer ensino, e eles são totalmente desprovido de qualquer discernimento. Eles são os mais acessíveis e os mais vulneráveis. Eles precisam da verdade, mas eles estão sendo oferecidos (e enganados por ) quase tudo o resto . . . .
E, claro, o dirigente de misericórdia que eles precisam é a misericórdia do evangelho. Uma vez que eles lançar mão dessa verdade, eles terão o alicerce para o verdadeiro discernimento e o ciclo interminável de confusão será interrompido.[2]
Crentes genuínos podem passar por períodos temporários de hesitação ou confusão. Estas são as verdadeiras vítimas que exigem o ministério da verdade gentil e generosa paciência. A verdade bíblica pode e vai prevalecer em suas vidas, conforme forem persuadidas as mentiras do inimigo.
O apóstolo Paulo descreve essa abordagem em sua segunda epístola a Timóteo:
Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade. [2 Timóteo 2:24-26]
Embora seja fundamental que nossas vidas exibem essas características de como nós chegar até as vítimas do engano, Judas 23 recomenda uma aproximação urgente e rude quando se lida com os enganadores de si mesmos e aqueles que , incondicionalmente, adquirir para si suas mentiras . Eles envenenam por meio do engano e precipitam ao inferno.

BUTTEL, Cameron. Your Berean battle plan: Reach [Artigo] Disponível em:

Traduzido por Sem. Ariovaldo Moreira Júnior



[1] John MacArthur, The Truth War (Nashville: Thomas Nelson, 2007), 177.
[2] The Truth War, 178–179.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O PROPÓSITO DO SHABBATH: DESCANSO OU DESCANSO ESPIRITUAL?


por Alan Rennê


Um ponto que é essencial para a nossa compreensão acerca do dia do Senhor é entendermos qual é, exatamente, a natureza do descanso que nos é ordenado e providenciado pelo Senhor em seu dia. Isso envolve compreendermos se o domingo é um dia meramente voltado para o descanso físico, para o recompor das energias ou até mesmo para o ócio, a fim de enfrentarmos mais uma semana de trabalho, voltado para o descanso e o lazer com a família[i], ou se o domingo é um dia voltado para o descanso espiritual, isto é, para a devoção mais íntima, mais focada em Deus juntamente do povo de Deus.

Há alguns anos, quando estava ensinando a respeito do dia do Senhor houve quem protestasse dizendo ser o domingo o único dia que tinha para ir à praia e fazer um churrasco com a família. Eu acredito que não são poucas as pessoas que possuem este raciocínio, que entendem que o propósito do dia do Senhor é tão somente proporcionar o descanso, o repouso e o lazer necessários após uma estressante e estafante semana de trabalho, afinal de contas, no mandamento o Senhor Deus nos diz: “não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro” (Êxodo 20.10). Ao mencionar os servos e os animais se vê claramente que o dia de descanso tem em vista o descanso e o refazer do vigor e das forças. No entanto, a questão é: É apenas isso? O único propósito do dia do Senhor é proporcionar ao trabalhador um momento para dormir até mais tarde, ir à praia com a família, fazer um piquenique, etc?

Esta questão é de grande importância, pois como salienta o Pr. Ryan McGraw, pastor da Igreja Presbiteriana da Graça, em Conway, na Carolina do Sul:
O cerne do debate sobre o que é lícito no Shabbath é se o propósito do dia é descansar ou se é descansar “empregando todo o tempo em exercícios públicos e particulares de adoração a Deus” (Breve Catecismo de Westminster, P. 60). A maneira como você responde a esta pergunta determina como você observará o dia. Este ponto determina como você responderá a cada pergunta a respeito de quais pensamentos, palavras e obras são apropriados no Shabbath, bem como se recreações seculares que são lícitas nos outros dias também são lícitas no Shabbath. Se você crê que o propósito do dia é descansar, então a ênfase da sua guarda do Shabbath estará sobre aquilo que faz com que você se sinta mais descansado. Por outro lado, se você acredita que o propósito do Shabbath é consagrar um dia para o culto privativo, familiar e público, então você excluirá todas as práticas que são inconsistentes com o culto ou que não o promovem de forma imediata.[ii]
Por aquilo que as Escrituras revelam fica claro que o propósito do dia do Senhor não é apenas proporcionar descanso físico ao seu povo após uma semana de trabalho intenso. O descanso do dia do Senhor não pode ser igualado a inatividade ou ócio. No início da letra do quarto mandamento encontramos um indício de como o dia deve ser compreendido: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar” (Êxodo 20.8). Devemos atentar para o fato de que o descanso do Shabbath é um descanso santo. O dia deve ser santificado. Todos nós sabemos que quando algo é santificado isso significa dizer que o mesmo é retirado do seu uso comum para servir a um fim religioso ou piedoso. Quando algo é consagrado isso significa dizer que é separado por Deus para ele mesmo, para a fruição do próprio Deus, para o deleite e o agrado dele. A mesma ideia aparece, por exemplo, em Êxodo 31.15-17: “Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer alguma obra morrerá. Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento”. Assim, vejam que o dia é declarado um dia santo.

Além disso, está escrito em Êxodo 35.1-2: “Tendo Moisés convocado toda a congregação dos filhos de Israel, disse-lhes: São estas as palavras que o SENHOR ordenou que se cumprissem: Trabalhareis seis dias, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso solene ao SENHOR; quem nele trabalhar morrerá”. Permitam-me citar também as palavras de um pastor presbiteriano chamado Robert L. Reymond a respeito da natureza do dia do Senhor como um “repouso solene”:
Nesta passagem é importante notar o significado da palavra “repouso” e as palavras seguintes “ao SENHOR”. “Repouso” não pode significar mera cessação de trabalho, muito menos recuperação da fadiga. Essa ideia também não é aplicável ao “descanso” de Deus em Gênesis 2.2-3. A primeira ideia é negada por nosso Senhor em João 5.17 onde ele afirma que o “Pai trabalha até agora”. A última é inapropriada à ideia de quem Deus é. “Repouso” significa o envolvimento numa nova atividade, no sentido de uma atividade diferente. Significa a cessação do labor dos seis dias e a tomada de diferentes labores apropriados ao dia do Senhor. O que esses labores do repouso do Sabbath são está circunscrito pela frase acompanhante “ao SENHOR”. Eles certamente incluem tanto o culto corporativo quanto o privado e a contemplação da glória de Deus.[iii]
Isso fica ainda mais claro quando observamos a posição do quarto mandamento no Decálogo. Essa posição coloca uma forte ênfase sobre a ideia de culto. Os primeiro quatro mandamentos tratam da nossa relação direta com Deus de modo geral e, mais especificamente, do culto que devemos prestar a ele. O primeiro mandamento trata do objeto de culto, o segundo da maneira do culto, o terceiro da atitude apropriada do culto, e o quarto do tempo separado exclusivamente para o culto.

O puritano Lewis Bayly, em sua obra A Prática da Piedade, uma obra que influenciou a ninguém menos que John Bunyan, autor da famosa obra O Peregrino, disse o seguinte: “Aquele que observa o Shabbath só descansando do seu trabalho comum, observa-o como qualquer animal. Mas a guarda desse dia como descanso é ordenada aos cristãos igualmente como ajuda à santificação. Assim também o trabalho é proibido por impedir o culto exterior e interior de Deus”.[iv]




[i] Na mente de muitas pessoas este é o único propósito do domingo. O dia foi estabelecido para ser aproveitado em família. Nesse caso, há uma dissociação do propósito intentado por Deus.

[ii] Ryan M. McGraw. The Day of Worship: Reassessing the Christian Life in Light of the Sabbath. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 2011. pp. 25-26.

[iii] Robert L. Reymond. “Lord’s day Observance”. In: Contending for the Faith: Lines in the Sand that Strengthen the Church. Ross-shire: Christian Focus Publications, 2005. p. 181.

[iv] Lewis Bayly. A Prática da Piedade. São Paulo: PES, 2010. p. 265.